sábado, 12 de outubro de 2013

Um dia sem pipoca e sem cinema é um dia perdido


O amor às palavras. O valor da amizade, que pode não estar tão visível e próxima quanto a esperamos. Personagens realmente humanos, palpáveis, nem sempre palatáveis. Um filme curto, simples, sem mirabolâncias. Tudo isso é pouco para descrever “Minhas Tardes com Margueritte”, brilhantemente protagonizado por Gérard Depardieu e Gisèle Casadesus.
Não pretendo contar a história inteira, mas é fato que Germain teve problemas de aprendizado quando criança: ainda hoje de difícil diagnóstico e ainda simplesmente rotulado como “burrice”, Germain não teve oportunidade de ser ajudado, muito menos pela mãe e pelo professor. Incompreendido, motivo de chacota dos colegasna escola, sem um pai que o ajudasse contra os mal tratos da mãe, nem assim se torna um adulto que desconte as desventuras de sua vida por meio de rancor ou intolerância. Sim, fala bobagem, fala sem pensar, mas possui um coração gigantesco. Já a Margueritte do título em português (no original, “La tête en friche“) mora numa casa para idosos, recebe poucas visitas de um sobrinho que sustenta sua estada na instituição. Ela ama leitura, e todas as tardes não se sente sozinha, pois está em companhia de seus livros e dos pombos habituais da praça.
Baseado em livro de Marie-Sabine Roger e dirigido com simplicidade e sensibilidade por Jean Becker, o filme se desenvolve em torno do improvável encontro dos dois, mas também a partir das lembranças de infância de Germain, de seu namoro com alguém que o compreende, de seus amigos no cotidiano da pacata cidade em que vivem…
Quantas vezes você já passou uma tarde com Margueritte ?
Com impressionantes 96 anos, a atriz Gisele Casadesus tem o brilho preci(o)so para compor de igual para igual com Gerard Depardieu sua delicada Margueritte diante do enorme ícone francês — tão grande quanto seu transbordante talento em um papel à sua altura (num ano em que também participou de outro excelente filme, “Potiche – Esposa Troféu”. Depardieu realiza com inteligência uma interpretação sensível de Germain, mas é generoso: na verdade, mesmo como contraponto ao protagonista que de fato é Depardieu, não se enganem, a personagem de frágeis 40 quilos é ainda mais interessante que o enorme Germain.
Como já citei, um filme curto, mas muito humano sem ser piegas ou cair em quase inevitáveis clichês. “Minhas Tardes com Margueritte” resulta em uma produção delicada que envolve o espectador do começo ao fim de forma simples e tocante. Um dos filmes do ano, recomendo. Pena que esteja em cartaz em tão poucos cinemas.





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